Bugigangas
Tô sempre contando essa história. Parou alguém perto de mim por mais de um abraço e é essa a ponte que eu atravesso, toda enfeitada de lanterninhas chinesas, embora da China mesmo eu só conheça o frango xadrez. É uma abertura maior que um carinho, um segredo feito para ser revelado, e volto nela sempre que posso, fingindo procurar um detalhe que tenha me passado despercebido. Me basta uma única chance, pode ser num vinho depois da janta ou numa roçada de pé embaixo do cobertor, e eu enfio a mão bem fundo no armário e puxo para fora o baú de bugigangas que também é a minha cabeça e fico lá remexendo, as pontas dos dedos já meio mortas e dormentes, para ver se entendo, enquanto conto, o que aconteceu.